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A INVISIVILIDADE da Educação na Família

A partir do instante que passei a celebrar nesse escritos a formação da Cultura do Livro na família, estou preso à suposição que família exerça papel ativo no ensino formal do indivíduo. E conforme veremos a seguir, isso não é nossa realidade.
Educação é INVISÍVEL às famílias, exceção feita àquelas hoje beneficiadas pelo Bolsa Família, um programa governamental bem conhecido que faz distribuição direta de renda àquelas da base social. Como estas famílias ocupam-se da frequência dos filhos da escola - uma de suas condicionantes para a manutenção do benefício - a realidade da escola é compromisso formalizado. O Bolsa Família é então, conceitualmente no presente contexto, um instrumento técnico educacional de ação indireta.
Essa obrigação imputa a realidade palpável da Educação no quotidiano dessas famílias, ainda que restrita ao quesito assiduidade da criança na escola. Como tratamos de famílias cujos genitores ou responsáveis são carentes eles próprios de escolaridade, ficam impossibilitados de fornecer qualquer outro suporte gerencial do ensino formal às suas crianças.
Essas famílias então, estão eximidas de uma participação maior. Mas o que dizer das demais famílias, aquelas, que possuem melhor estrutura, com genitores ou responsáveis melhor escolarizados?
Educação é uma necessidade social assim como o são a Saúde e a Habitação, por exemplo, e precisa de visibilidade equivalente ou até maior nas famílias.
Explicando o que seja VISIBILIDADE sobre Saúde, vamos convir que toda família tem alguém que venha a adoecer um dia, mesmo que por um simples resfriado. Do menor ao maior infortúnio com o bem estar médico do indivíduo ele precisa do atendimento medicinal e, do impacto de seu mal estar, é recorrente a imagem do médico e instalações medicas.
É impossível uma comunidade criar solidez e prosperar onde não progrida também o atendimento à saúde pública. Com justiça, as pessoas reclamam se não forem convenientemente atendidos em seus males quando procuram ajuda médica. 
Explicando agora VISIBILIDADE sobre Habitação, veja como as pessoas pagam alugueres para morar e criam demanda por mais acomodações quando os filhos de sexos opostos crescem e pedem espaços individuais. Inclua novos matrimonios.  E todos querem sua casa, trabalham e reivindicam financiamentos para a posse e uso desse bem perseguido por quase todos por uma vida toda.
Com respeito à Educação, o grau de visibilidade da família restringe-se ao material escolar, ao transporte e à alimentação fornecida nas escolas. Suprido esses ítens, a família dá por satisfeita sua demanda por Educação.
Uma mochila escolar se restringe àquele volume que se coloca às costas das crianças para levá-las ao ponto do ônibus escolar.
E essa mochila, invariavelmente, sai do lar para a escola e para ali retorna sem nunca ver partilhado com a família seu conteúdo produzido em aula.
“Está com fome?” ou “Tem tarefas para fazer?” são as únicas perguntas feitas às crianças em seu retorno da escola. Se a criança responde, pela ordem, “Não” e “Não”, é quando termina a participação do pai, mãe ou responsável em sua vida escolar.
Não temos uma cultura participativa da família no ensino formal de seus filhos. Ela é integralmente delegada aos professores, à escola e ao governo. Isso feito, está cerrada a densa cortina que delimita a percepção da família sobre Educação.
Exceção feita ao reduzido número de pais das Associações de Pais e Mestres que participam de reuniões convocadas, a imensa maioria não saberia sequer responder sobre as cores que são pintados os muros da escola, se ela tem pátio ou conta com árvores em seu interior.
Essa alienação da sociedade com os rumos e qualidade do ensino ministrada aos seus filhos, essa INVISIBILIDADE da Educação para a família, essa delegação de responsabilidade aos professores, não permite que seja formado uma consciência política de ciclos virtuosos.
Nenhum pai ou mãe tem como questionar políticos locais sobre a escola de seu filho, seja sobre algum estado de necessidade ou alguma melhoria porque a desconhece por completo.
Porque não, um dia, uma mãe levar ao conhecimento de um político local, executivo ou legislativo, que na escola de seu filho faltam bebedouros, a cozinha precisa de um fogão novo ou que os professores precisam de uma área de estacionamento para seus veículos?
Políticos batem às portas das pessoas e as param nas ruas em períodos eleitorais. E são as pessoas que definem as prioridades de atuação do político. E prioridade maior que Educação, não há em nosso país.
Não conseguiremos conscientizar a família para essa desejada maior participação na educação formal de seus filhos, com conversas ou campanhas na televisão estreladas por pessoas de fama e carisma. Esses conselhos fazem por trazer à luz, direcionar holofotes, para a carência. Mas por si só, não se bastam para retirar as famílias de sua cultural omissão, uma zona de conforto por gerações cultivada.
Meu trabalho é desenvolver uma Tecnologia Educacional com Instrumento Técnico apropriado que possa criar essa materialidade, dar essa visibilidade da Educação para a família. E com sua inserção no cotidiano familiar sugerindo ações de participação continuada e eficazes.
À medida que governos federais e estaduais contarem com uma participação mais ativa da família no ensino formal de seus filhos, melhores serão geridos os recursos públicos destinados e maiores os ganhos na qualidade educacional.