A Cultura do Livro na Sociedade Brasileira
Primeiro é preciso decifrar “cultura”, um termo entre erroneamente e equivocadamente utilizado quando de sua citação em incontáveis contextos.
Cultura de um povo é o como ele pensa e age. Expressões várias em artes, entretenimento, edificações, vestuário, culinária e hábitos do cotidiano, são derivações de uma cultura.
Uma cultura pode ser fechada ou aberta às influências externas. O europeu colonizador, por exemplo, habituou-se ao banho diário por influência indígena. O quarto de empregada é resquício da escravidão no Brasil. Um empregado estadunidense demitido, se informado que no Brasil são vários os direitos trabalhista aplicáveis, ele pensa primeiro em como é oneroso ser patrão por aqui. Entrevistado em Pequim, um jovem paulistano filho de chineses - com os meneios de voz e corpo tipicamente nossos - declarou que mesmo morando junto e tendo o nome e aparência idêntica aos parentes, de forma alguma deixava de sentir-se integralmente brasileiro.
O exército mongol de Gengis Khan invadiu e dominou a China, eliminou seu aparato público e não consta que os mongóis tenham sido depois derrotados e expulsos. A milenar cultura da China absorveu-os. Tanto, que Kublai Khan, o imperador encontrado depois por Marco Polo era neto de Gengis Khan “estava” um completo chinês.
A Roma Antiga, como nos é dado a conhecer pelas estátuas, gravuras e, principalmente no Cinema, mostra um modo de vida romano que foi absorvido dos povos que dominou, como etruscos e gregos. Os romanos eram guerreiros-camponeses rudes antes dessas influências.
O moderno Japão é aberto ao mundo mas apenas estéticamente eis que de resto é culturalmente egocêntrico, quase nada miscigenam em sua terra natal e tratam como inferiores os descendentes dos seus miscigenados em outras terras.
Assim são culturas, elas têm circunscrito em si a dominação do ser, de seu comportamento, de como é, de como pensa. Cultura são os valores não genéticos sujeitos a influências que se agregam ou a transformam, transmitidos de geração a geração.
Eu tento imaginar como seria a expressão da Cultura do Livro em outros povos. Por sorte temos a internet como fonte de informações sobre isso e que nos chega é no formato de curiosidade. É muito natural que assim seja porque nós brasileiros não temos uma Cultura do Livro como parâmetro.
Não é curioso que pessoas se ocupem lendo livros o tempo que obrigatoriamente dispendam no transporte coletivo? Ou que a praia seja o ambiente preferido para a leitura, onde algumas disponibilizam bibliotecas móveis pela orla, em plena areia?
Imagine isso, um dia, em praias brasileiras.
A leitura sob o ponto de vista cultural é ao mesmo tempo entretenimento, consumo de informação e lazer. De toda forma permaneço curioso sem saber como esses povos adquiriram o hábito pela leitura e como formou-se a Cultura do Livro nessas sociedades.
Como são nações que existem bastante antes de iniciado nossa história, são providos hoje de nível educacional formal invejável, eis então que deixo para o futuro essas descobertas.
O que nos importa é como formar a Cultura do Livro na sociedade brasileira. Como retirar pessoas de uma zona de conforto sem que lhes seja imposto um compromisso formal - que vejo como incapaz de ser atendido - para que o livro passe a fazer parte de seu imaginário?
O Brasil consta hoje como um dos países que mais editam livros, porém incluindo nessa conta, as publicações didáticas bancadas pelos governos destinadas ao ensino público. Esses são os livros que estão pelas escolas e que toda criança naturalmente terá acesso para aprender português, matemática, geografia e história. Ocupo-me aqui, da leitura como ato espontâneo, que traga para as pessoas experiências individuais só encontradas nas tramas engendradas pelos autores de obras ficcionais ou realistas.
A leitura do ponto de vista cultural é aquela que nos remete às fantasias ou vivências nas quais o autor transcreve situações reais, psicológicas e sociais que venhamos a nos identificar no momento presente, passado ou futuro, orientando comportamentos e decisões. A esse conhecimento, que se acumula com a vivência própria do indivíduo, damos o nome de bagagem cultural.
O quanto não vemos de citações - de frases e situações autorais - por pessoas em seu quotidiano, utilizadas como fonte de energia psíquica? Eu mesmo, creiam, safei-me de várias situações por conhecimento de paralelos um dia lido em livros. Os comportamentos se repetem indefinidamente ao redor do planeta e foi ótimo ter o conhecimento de uma situação similar àquela que estava a me afligir. De bom grado a reconheci e utilizei como providencial ajuda.
Pela leitura sob o ponto de vista cultural o indivíduo adquire auto-confiança por melhor identificar o que o rodeia, melhor exprimir o que sente e pensa em situações corriqueiras. Um homem culto sabe dos valores que norteiam uma sociedade equilibrada, sabe dos males que a aflige e pode questionar e escolher seus governantes. Isso é cidadania. Mas, só atingiremos tal patamar quando o livro não for um elemento estranho ao convívio familiar, às famílias desde a classe média até operários e lavradores. Com a Tecnologia Educacional do Amigos de Letras na Escola, essa cultura do livro na família é possível de acontecer.
Vale ressaltar a importância primária da inserção da imagem do livro como elemento físico no imaginário coletivo de um público alvo. Seu inteiro teor, obviamente, obedece unicamente a critérios do gosto individual.
Trabalhar uma tecnologia educacional e instrumento técnico com os objetivos propostos, há que se descartar outras plataformas como computadores portáteis ou livros eletrônicos, uma vez que esses não se prestariam à interatividade e massificação - o fim específico dessa tecnologia - que só o papel permite.