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Vamos trocar a falta de hábito de leitura pela cultura do livro.

Toda vez que debruçam sobre a constatação de que “brasileiro não lê”, logo pensam que a culpa é o preço do livro e que desse mal sofremos por causa das baixas tiragens das edições. Visto assim, como bem industrial de consumo, o livro obedece regras como qualquer outro produto: quanto maior a produção, menor o custo final por unidade. Se resolvida essa equação - via subsídio público que fosse - passássemos a criar gerações de leitores, de consumidores de cultura literária, estou certo que os governos já o teriam feito. Por infortúnio, nossa realidade é expandida.
Primeiro, é necessário entender que estamos tratando de pessoas, de leitores, antes de livros. O livro está para depositário de conhecimentos assim como pessoas deveriam estar aptas a absorvê-los. O hábito da leitura precisa ser cultural em um povo. No Brasil encontramos essa cultura apenas no seio familiar - fortuitos e peculiares casos isolados - eis que a família é o segundo ambiente ideal para se formar a cultura do livro.
O primeiro ambiente é a escola. Só conseguiremos criar o hábito da leitura quando ministrado regularmente desde a mais tenra idade - a partir dos 7 anos - antes que a criança tome gosto e coloque em primeiro plano atividades paralelas à sua educação escolar formal, esse importante início do processo de absorção de conhecimentos úteis à vida adulta. 
A vida moderna convida ao movimento e esse irresistível apelo estão nos jogos eletrônicos, por exemplo, que vieram a substituir os folguedos outrora nas ruas e calçadas.  Os folguedos eletrônicos estimulam os sentidos das crianças - e seu raciocínio - para a ação, para o movimento. 
Em minhas observações, destaco aquela em que vi crianças na faixa dos dez anos saindo de uma lan-house alegremente discutindo seus lances no brinquedo, levando seu alarido sobre o tema. Dobraram a esquina, deixaram meu campo de visão, e ainda vivenciando o que já estava fora de seu campo de ação física. O divertimento eletrônico veio e o futuro de nossas crianças a ele pertence. Nada contra isso, mesmo porque quando moderados, contribuem para desenvolvimento psicomotor e intelectual do indivíduo. O que temos a fazer é buscar para esse grupo, a convivência pacífica de atividades entre as as vibrantes que contagiam e as potencialmente maçantes e aborrecidas. 
Os computadores que trazem os jogos e folguedos cada vez mais vibrantes e contagiantes, não o conseguiriam com a leitura, eis que sendo uma atividade estática não teria alterada essa propriedade. Leitura pede concentração total e movimentação zero do indivíduo. Por isso, quando forçada por obrigação escolar e não por um hábito salutar adquirido na escola e/ou na famíla, configura-se como atividade maçante. Então, como  introduzir a leitura até que se forme o hábito no indivíduo, até que se forme a cultura do livro? Com Tecnologia Educacional e Instrumento Técnico que privilegie o descompromisso com ela!
Vamos quebrar parâmetros. Vamos fornecer literatura em doses homeopáticas e regulares às crianças sem compromissá-las com sua leitura. A princípio, basta o contato visual e táctil com o material. Como esse instrumento técnico será atraente em si, ao grupo, aos mestres e à família, insinuantemente estaremos criando o hábito da leitura em nossas crianças e a Cultura do Livro na família.
Consegue imaginar uma Tecnologia Educacional com Instrumento Técnico de Aplicação de baixo custo que dentro de seis meses esteja disponível a todo Brasil, em todo e qualquer lugar onde se ministre o Ensino Fundamental? Das periferias das grandes cidades passando pelo mais pobre município brasileiro indo até os ribeirinhos da Amazônia? 
Parece ousadia mas afirmo que essa tecnologia existe e sua aplicação no Brasil poderá vir a ser apenas um primeiro passo. Satisfeita nossas necessidades de implantação, podemos levá-la a praticamente toda a América Latina e vários paises africanos, o soft power brasileiro atuando com Educação, disseminando a cultura e ampliando horizontes.
No Brasil, com a criação do PNLL - Plano Nacional de Livro e Leitura e, no Congresso Nacional, a existência de uma Frente Parlamentar da Leitura, temos os fóruns bastantes para acreditar que podemos avançar em muito com Tecnologias Educacionais e Instrumentos Técnicos para formar leitores na escola, criar o hábito da leitura nos brasileiros e a Cultura do Livro na família.
Seguir adiante é questão de vontade e trabalho, apenas isso.